Quilombo Hi Fi, CCJ e Prefeitura de SP trazem Jah Shaka ao Brasil

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Em outubro, a capital paulista recebe a lenda viva do dub, o mestre Jah Shaka, em evento apoiado pela Prefeitura da Cidade de São Paulo. Na rua e de graça, o show promete ser um dos mais importantes do ano para quem é fã da música jamaicana.

(por Dani Pimenta)

O Groovin Mood entrevistou Marcelo Rodrigues Gregório, o Jah Knomoh, um dos idealizadores do Quilombo Hi Fi Sistema de Som, e também responsável pela vinda de Jah Shaka ao Brasil. Contando um pouco da história do Quilombo Hi Fi: participam também do sistema de som Peppa (nota desta que vos escreve.: é Pimenta, é Peppa, mas não é meu parente e nem copiei dele o Peppa do meu @ThaPeppa), I-dren e Lioness Laylah, foi formado em 2007, e segundo Jah Knomoh, o coletivo vai além de simplesmente levar boa música aos ouvintes. “Somos fuga do engenho, resgate das lutas , os revolucionários “LIVRES” 500 anos depois, discórdia relevante, o veneno da memória , a peste perniciosa e denegrida, jamais seremos as telhas esculpidas nas coxas, mas sempre olharemos e lembraremos o porque das goteiras das casas de nossos antigos senhores, casas que hoje nos pertencem, pois a eles não servem mais.”

Em nossa conversa, Jah Knomoh conta um pouco do processo que culminou na aguardada apresentação, marcada para o dia 24 de outubro próximo.

GROOVIN MOOD: Jah Shaka é uma das maiores lendas vivas da música jamaicana. O que ele representa musicalmente e culturalmente para você, tanto pessoalmente quanto na formação e desenvolvimento do Quilombo Hi Fi?

JAH KNOMOH: Simplesmente tudo. Toda a influência em produção, seleção, a ideia de fazer som de alta fidelidade, poxa valvulado!, o engenho e a genialidade das produças. Acho que não somente pra nós , mas acho que Jah Shaka é o grande ícone dos sound systems de todas as vertentes, é um ícone do reggae em sua essência profunda e mística. Pra mim, se colocar em escala de importância no reggae, Coxsonne , King Tubbys e Jah Shaka seriam as três figuras mais importantes para constituição e desenvolvimento do reggae no mundo.

GM: Como foi o processo de contatar e trazer Jah Shaka para fazer essa apresentação em SP?

JK: No começo do ano , em uma conversa informal com a produtora e o ex-gestor de multimídia do CCJ (Centro Cultural da Juventude de São Paulo), tinha-se a ideia de trazê-lo em maio, mas ficaria meio em cima da hora. Nesse meio tempo, já telefonei para a produção dele, conversei muito com a simpática produtora, e ela ficou extremamente interessada em vir ao Brasil. Pela forma que ela falou deve ser um desejo do Jah Shaka tocar por aqui. Ficamos em contato durante este ano todo quando a Karen, produtora do CCJ, resolveu firmar essa contratação para um mês importante para o Centro Cultural , o mês da Cultura Independente. Isso caiu como uma luva para uma galera pois coincidentemente é o mês de aniversário do Quilombo, da Lioness Laylah, de vários amigos, enfim, um mês muito especial para todos. E para nossa Cultura agora será um marco na história, o dia em que “SPdown” viu o maior soundman de todos os tempos. Importante frisar que o CCJ tem a melhor programação cultural de SP no atual momento. Tem feito os melhores shows gratuitos do Município. (Céu , Nação Zumbi , Pitty , Nelson Sargendo , Dona Ivone Lara……….. e muuuitos mais que não lembro e que estão por vir.) (Dica Groovin Mood: acesse aqui o site do CCJ e conheça a programação, que além de shows, oferece oficinas, debates, encontros, apresentações teatrais, e etc)

GM: E sobre a parceria com a Prefeitura e o CCJ para trazer o Jah Shaka? Como foi o processo de “convencimento”?

JK: O CCJ é da prefeitura e tem programadores e gestores próprios, eu sou Técnico de Audio do CCJ, quando me é solicitado opino e participo de algumas coisas, principalmente quando se trata de programação de reggae. No caso a ideia inicial surgiu em uma brincadeira (“poderiamos trazer o pai dos sounds JAH SHAKA”), nunca achei que seria possível. Foi quando a Karen (produtora do CCJ) me pediu para entrar em contato e ver quanto custava, e se estivesse dentro do orçamento poderiamos fazer esse evento. E dessa brincadeira rolou! O corpo de servidores do CCJ é jovem também e de vários estilos , então a pluralidade na programação é reflexo disso. Todos tem voz ativa por aqui, por isso funciona legal. O Jah Shaka é mais uma atração das grandes e com aprovação de todos. Vai ser um marco conjunto da cultura, do CCJ, dos envolvidos, mas principalmente do alvo principal, o público que tanto sonhou com isso.

GM: Ele fez alguma exigência curiosa? Todo mundo sempre quer saber, rs.

JK: Exigências, não, não esperaria isso de um “True Rasta”. Mas algo curioso é quanto a preservação de imagem dele, ele é bem reservado, é perceptível até nos vídeos que vemos por aí. Eu particularmente espero me surpreender e aguardo um preto ancião , sereno e simpático.

GM: Por que uma festa aberta, gratuita, e durante o dia? Vai na contramão de shows recentes que aconteceram aqui, como Max Romeo, Mad Professor…

JK: Quem faz os shows fechados são produtores fechados, certo? Vivem disso e lucram em cima. Quem está trazendo o Jah Shaka são representantes e uma produtora do CCJ (que é da Prefeitura), e com grana de orçamento público também. Houve interesse de produtores, mas o mais importante pra mim é a gratuidade do evento e a legitimidade no gasto da grana do contribuinte.

GM: O que você, como membro da cena soundsystem, indo um pouco além de apenas fã do Jah Shaka, espera desse show?

JK: Lágrimas em muitos olhos, inclusive nos meus, muita euforia, reunião de toda a cena pra uma só vontade (difícil e importantissimo), a luz de Jah (algo que acredito de verdade) iluminando todos os presentes, sem aquela pregação e ortodoxia, somente PALAVRA , SOM e PODER !

GM: Então, aproveite o espaço e convide todo mundo a prestigiar a lenda do dub!

JK: É isso aí, pessoal, só chegar, espero que curtam todas as atrações ESPECIAIS também, humildão Buguinha dub, Victor Strikklyment FODA mixando (ele já tocou no CCJ o lançou a mix Lonely Hearts, foi vibes), meu amado Sound o Quilombo Hi Fi, sem hipocrisia, todo soundman acha seu próprio sound mais foda, eu particularmente acho Quilombo Hi Fi o pesado dos pesados!! (risos) Mas amo a cultura muito mais que isso, a rua, os sounds na rua, gratuitos. Tem que aumentar a visibilidade pra isso, pra coisa crescer mesmo e cada quebrada ter um mano comprando tune, montando caixa e fazendo do seu gueto algo um pouco mais verde amarelo e vermelho, algo onde os ouvidos não sejam aflingidos com cornetas ao som de tamborzão, onde as crianças brinquem e corram e vejam e escutem algo repleto de amor, feito com amor, de sofredor pra sofredor, em terceiro mundo pobre sem dor. Reggae é isso , depois vem o business. O maior benefício deste evento é a visibilidade e a consolidação da existência de uma cultura aqui e não só de um sound num deserto sem reggae. Existimos e estamos crescendo, prova maior que isso não tem, e não como ceninha ou indivíduos, porque isso passa, é como CULTURA, algo indestrutível para os que a vivem.

Ah, importante, essa todos vão gostar! Lembrei de uma exigência feita por ele: Jah Shaka disse que não viria até aqui pra tocar menos que 4 horas. Ou seja, preparem os capacetes a seleção vai ser uma grande aula para os soundmaniacs!

GM: O Groovin Mood agradece a entrevista, e espera ansiosamente esse grande encontro, essa grande celebração…

JK: Eu agradeço a vocês pelo trampo em nome de Peppa, Idren e Lioness, que são cada um 100% do sound também, e correm pela cultura pingando salgado da testa, puramente de coração, isso pra nós é um ideal, e com todos esses acontecimentos somos o sound mais lucrativo do momento mesmo sem termos dinheiro algum com isso. Verdadeira arte é o todo , verdadeira arte é a que surge em meio as limitações e dificuldades. O gueto mostra à arte de viver e de fazer cultura. Prospera sem ouro, e transforma sem poderes além de suas mãos e suas vozes.

Domingo, dia 24 de outubro, a partir das 13 horas
Av. Dep. Emílio Carlos, alt. 3641 – Vila Nova Cachoeirinha – São Paulo (SP) – Na rua, DE GRAÇA!
Realização: CCJ – Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso e Prefeitura de São Paulo

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