Laylah lança seu álbum “Amalgama”; confira entrevista exclusiva!
Uma das mulheres que eu mais admiro quando o assunto é reggae e música, e que, ô sorte, hoje trabalhamos juntas. Laylah é uma das minhas parças no Feminine Hi-Fi, e tem um longo, profundo e maciço trabalho musical, sobretudo no cenário reggae, do qual foi uma das primeiras referências aqui em São Paulo e atua há mais de uma década.
Como trabalho feito com amor e competência só tende a crescer e evoluir cada vez mais, não seria diferente no caso dela. Pra celebrar um momento excelente de sua carreira, Laylah lança no próximo dia 21, terça, o álbum “Amalgama”, com seis músicas de sua autoria no lado A, e ‘dub versions’ no lado B, num total de 12 faixas. ‘Amalgama’ foi produzido por ‘I Neurologici’, que é o braço de produção do Sistema de Som ‘Real Rock Hi Fi’, vinculado ao selo ‘Strato Dischi’ (Roma – Itália).
Laylah é cantora desde os 12 anos. Iniciou como solista em coral e experimentou pequenas participações e gravações no rap até vincular-se ao reggae, onde foi uma das pessoas que construiu e integrou o Sound System Quilombo Hi-Fi por seis anos. No reggae, realizou um marco importante sendo a primeira cantora do Brasil a ter uma música prensada em Vinil no formato 7 polegadas, com a canção ‘Olhem para África’.
Além de inúmeras fusões com sound systems do Brasil e do mundo, segue também na ativa com as bandas ‘Laylah & Santa Groove’ e ‘Ba-Boom’, navegando pelo funk tradicional e batuques brasileiros com música jamaicana.
Tivemos um bate-papo, e Laylah conta mais sobre o álbum pros leitores do Groovin Mood. RESPECT TO THE QUEEN, yes? 😉
(por Dani Pimenta)
GM – Como nasceu o Amálgama e como você sentiu que era o momento de finalmente botar na rua seu primeiro álbum?
Laylah – Ao longo da minha vivência cantando em Sistemas de Som de Reggae aos poucos fui compondo letras, cantando ao vivo e diversas delas gravando aleatoriamente, em riddims* de diferentes produtores. Em um dado momento, muito naturalmente, me veio a intenção de compilar essas reflexões, eu mesma tinha dificuldade de “me encontrar” espalhada pela internet, que hoje é o principal veículo de disseminação da música, imagine as outras pessoas? hahahah
Eu poderia simplesmente fazer um “catado” de todas e pronto, mas cada uma delas estava em um tempo-espaço diferentes.
Não digo muito em relação às letras, gosto que elas representem momentos diferentes da minha vida enquanto compositora, contudo, apesar de eu gostar dos riddims onde elas foram gravadas, essa era uma problemática no meu ponto de vista, pois havia cada qual sua linguagem e seu “dono”. Assim, fui tocando meu barco até conseguir perceber uma oportunidade de encaminhar essa ideia efetivamente. E ela finalmente chegou no contato que rolou com o Andrea Mazzini, do Real Rock Hi Fi (Sound System de Roma/Itália).
GM – Por que o nome Amalgama?
Laylah – Amalgama, em seu sentido figurativo, quer dizer a mistura de elementos diferentes ou heterogêneos que formam um todo único. Também é o nome dado para um elemento químico formado de mercúrio e prata. Aí vem uma coisa toda né? hahah! Mercúrio é conhecido como “prata-viva”, por ser um metal fluido. Recebeu esse nome, Mercúrio, porque na mitologia grega ele era o mensageiro dos deuses, daí sua fluidez.
A escolha do nome do álbum foi diante dessas diversas significações que a palavra traz. As minhas joias, que são as minhas mensagens em forma de música, muito valiosas pra mim como pessoa, e fluidas permeando os anos e as pessoas que recebem essas reflexões. A outra coisa que me chamou a atenção, mas ai fui me ligar depois e foi sensacional, é que em um universo muito amplo de idiomas, a palavra Amalgama além do mesmo significado, tem basicamente a mesma grafia, tornando-se assim compreensível no mundo todo praticamente. E aí uma observação justificativa nesse sentido é que em geral eu escrevo sem a acentuação (que seria o correto no português formal) apenas porque é a maneira mais universal da palavra.
GM – Como os sons do álbum se relacionam com a sua história, tanto profissional quanto pessoal?
Laylah – Essa Amalgama resgata as minhas principais composições ao longo da minha trajetória. Minhas influências, vivências, muitas delas alheias ao movimento da música propriamente dito. Trago para as letras muito dos lugares, pessoas do dia a dia, das raízes familiares e étnicas, os anseios comuns, o cotidiano…a vontade de falar do mundo enquanto experiências observadas e vividas. A inspiração nos momentos mais despretensiosos. As músicas não tem letras que necessariamente conversam entre si em um primeiro olhar, mas conversam através de mim.
GM – Como foi o processo de gravação do álbum? Como o I Neurologici se conectou a esse projeto e como vcs conheceram o trabalho um do outro?
Laylah – Em julho de 2015 a equipe da festa Terremoto (SP/SP/Brasil) convidou três cantores atuantes nessa cena: eu, Monkey Jhayam e Ualê Figura, para uma edição especial d’ “A Voz dos sem Voz” (apelido que ganhamos carinhosamente à época do OcupaSound, projeto em que cantamos seguidamente juntos por muitos meses).
Para essa edição, os Sistemas de Sons envolvidos gravaram dubplates conosco. Um deles fiz para o Zion Gate Sound System, uma música de mesmo nome, Zion. O riddim, chamado Radio Gap, foi cedido pelos seus autores: I Neurologici, que é o braço de produção própria do Sistema de Som, Real Rock Hi Fi (Roma/Itália). Esse riddim hoje já é bem conhecido pela música Reap What You Sow, da Sistah Tahnee.
Na ocasião, o Lincoln, do Zion Gate, era quem intermediava tudo. Não me lembro o motivo exato, mas eu quis dar um pitaco qualquer na música e facilitaria que eu falasse diretamente com o Andrea e assim se estabeleceu o contato. Recebi muito feliz elogios dele e transmitido por ele, elogios vindos dos colegas parceiros,sendo assim ele me propôs enviar-me alguns riddim para que eu escolhesse muito à vontade e gravasse algo mais.
Me chegou então uma pasta com uma infinidade de riddims! Falei UAU!
E aí que veio aquele sopro no ouvido baixinho “Laylah, e se você perguntar pra eles se eles topam fazer o seu disco? O não você já tem, né?”
E aí só foi! Achei muito legal que não ficamos no limiar do trabalho, senti que de ambos os lados havia aquela importância sobre pensarmos de forma parecida a respeito do mundo, a respeito do reggae, de Sound System, de música, etc. E isso foi fundamental para que o trabalho saísse ao meu gosto e ao gosto de todos os envolvidos lá.
Andrea foi o porta-voz de todo um time lá da Itália e participou diretamente da produção do disco, todavia o “cabeça” do I Neurologici é o Fabio Pieri, com quem conversei menos, mas que eu admiro demais e não poderia deixar de ser, definitivamente, um “monstro” na produção de riddims!
De lá e de cá fomos construindo o AMALGAMA, contando com as facilidades da tecnologia pra diminuir a distância Brasil – Itália
Meu parceirão aqui foi o Jeff Boto (Dubatak Records), gravei todas as vozes lá com ele. Eu em geral não sou muito demorada não pra “mandar pra conta” hahaha. Mas poxa, meu disco!! Boto acabou me ajudando algumas vezes tecnicamente, mas no fundo, mais ainda injetando segurança e confiança. Não posso deixar de citar dentro esse processo de gravação, a participação do Monkey Jhayam na faixa Madiba. Meu companheirão e alicerce do dia a dia nesse universo sonoro, praticamente começamos juntos e nos mantivemos ligados desde sempre, até hoje. Uma década ai desse elo forte.
GM – Como é a composição do álbum?
Laylah – O Amalgama tem 6 faixas cantadas e todas elas possuem uma versão Dub, totalizando 12 faixas. Em geral pelo que tenho visto, acredito que ele seria chamado de um EP, mas é uma nomenclatura que confesso que na minha ignorância, não sei se é invenção nova ou velha, mas vejo que tem sido muito usada. Entrei em um dilema breve entre chamar de EP ou de álbum, pelo julgamento alheio mesmo. Mas aí decidi que eu não gosto de chamar nada de ninguém de EP hahaha!, simplesmente porque eu acredito que quando se constrói um conjunto de ideias sob um mesmo “teto”, aquilo faz um sentido pro artista que o construiu, fechou um momento, um ciclo, um período. Tanto faz se tem 3, 4, 10, 15 unidades de música.
Essa história de EP tá muito relacionada ao quantitativo e sinto que pra muita gente essa nomenclatura dá uma impressão de menos importância.
Acho que isso tira toda uma beleza e um coração que pode estar colocado ali, em pouco numeral ou em muito, que seja. Minha escolha quantitativa foi proposital, é um disco que dialoga com a cultura Reggae Sound System, é dedicada especialmente a ela. E ai os meus parceiros cantores, toasters e singjays, vão me entender mais ainda: é muito bom quando tem a dubversion, né não?! 😉 hahahah
GM – Como será o lançamento? Vai ter disco físico?
Laylah – Partindo do princípio de que eu acho que a música tem que ser muito livre, acessível e de cara já nos vimos, eu e meus parceiros italianos, mutuamente em concordância quanto a isso, pois eles pensam da mesma forma. O Amalgama é o que posso chamar de website-album.
Ele tem um site exclusivo pra ele, com todo o conteúdo como um disco físico e estará disponível para download gratuitamente. A música de trabalho escolhida é Humano Baldio, que foi presenteada com um belo clipe também com acesso fácil pelo portal. As mídias fisícas virão, não de imediato. Teremos o álbum em CD, a preço popular, e mais rapidamente e em um futuro não muito distante, pois acho essencial, é muito parte da cultura de Sistemas de Som, o teremos em disco de vinil.
GM – Quem fez parte de todo esse processo aqui no Brasil, pra fazer acontecer da melhor forma?
Laylah – Aaaa essas pessoas todas! Faltam palavras para agradecer porque o Amalgama saiu de parcerias, de trocas, quase que 100% não-financeiras propriamente. Foi escambo, foi favor daqui, dali. E eu achei muito lindo esse processo porque sinto que todo mundo acreditou demais junto comigo.
De cara falo da Lys Ventura, minha produtora executiva que tem sido braço direito e esquerdo nessa construção. Tem também o Daniel Lupo (Seu Menino Filmes), que dirigiu o clipe de Humano Baldio e foi absolutamente incrível! O cara fez cinema! Responsável desde a criação das ideias até o botar a mão na massa e junto com ele toda a equipe que somou com ele e consequentemente comigo, gente bambambam forte em suas áreas, que topou porque gostou!
Ainda se tratando do clipe, há diversas faces nele: meus pais, primo e uma dezena de amigos e amigas do coração que se disponibilizou, se deslocou e encarou o desafio de participar dessa filmagem.
Na construção do site que hospeda o disco, outro baita cara no que faz, o Tiago Canzian. E se tratando de um disco transnacional, fundamental ser compreensível, então somou ali o excelente teacher, Guilherme Gasa, pro texto em inglês. Falando das imagens que compõem o álbum e seu website, todo o conteúdo fotográfico veio das mãos da Melissa Sirks, fotógrafa incrível, que fez todos os registros usando a técnica de light painting (pintura de luz). O figurino foi feito pela estilista Carol Decol, soube demais captar o que eu iria gostar.
A maquiagem lindíssima ficou por conta da Marcella Leme e o cabelo de box-braids perfeitinhas pela Mayara Amaral. Incrementando a arte final, teve parceiro lá em Roma para além da parte musical, o designer Flaminio Tricks. A essas pessoas, aproveito o espaço para dizer que vocês foram fundamentais e providenciais para essa Amalgama. Estão lá no fundo do meu coração. Todas elas!
Dani Pimenta é jornalista musical, DJ e produtora cultural. Está sempre atenta às tendências e novidades da música independente mundial. É fundadora do Groovin Mood.
Maravilhosa matéria com um encaminhamento claro que seduz na continuação da leitura e consequentemente no melhor conhecimento de uma trabalho bonito onde muitas mãos trabalharam e valorizaram a artista que sem dúvida é talentosa, Parabéns.
Laylah, MUITO sucesso é pouco, perto do que te desejo!
Você brilha, você literalmente canta e encanta, sou sua fã desde o dia que tive o prazer de te ouvir a primeira vez! (COm o Laylah e Santa Groove).
Parabéns pela matéria, ficou maravilhosa.
Beijo grande
Bala… esperando pra tocar na agulha…. parabéns pelo trabalho, parabéns a groovinmood pelo suporte dado aos artistas independentes. Run it.