Punk 77: festival gratuito celebra os 40 anos do punk rock e leva o reggae junto
Em 2017 o punk rock completa 40 anos e ganha uma homenagem com um festival de música gratuito em São Paulo. Nesse sábado, dia 29 de julho, sábado, cinco bandas independentes da cidade vão celebrar o levante de 1977 – quando bandas importantes do movimento, como Ramones, The Clash e Sex Pistols, lançaram discos que viraram clássicos, estouraram e ganharam a mídia e o mainstream, influenciando gerações e marcando a cultura pop até hoje.
O projeto “Punk Rock 77” nasceu para celebrar este aniversário e a ideologia do Faça Você Mesmo (Do It Yourself – DYI, em Inglês), que era o lema dos punks nos anos setenta e continua presente no cenário musical independente paulistano.
Essa é a proposta do festival: um evento gratuito, aberto para todos e feito através de parcerias entre músicos independentes com raízes punks, blogueiros e jornalistas que atuam além da cena comercial e resistem no mundo digital entre playlists, festas de rock e sites especializados.
O evento reúne cinco bandas de rock alternativo de diferentes gerações e influências, mas todas ligadas de alguma forma aos movimentos punk e hardcore de São Paulo: os veteranos do Cólera, pioneiros no punk rock brasileiro desde o final dos anos 70; Asfixia Social, Miami Tiger, Porno Massacre e Wabi Sabi. Os shows vão trazer músicas autorais de cada grupo e também alguns covers em tributo aos grandes nomes do punk rock de 1977.
A discotecagem do festival será feita pela Feminine Hi Fi, projeto do qual eu faço parte e é produzido apenas por mulheres, resgatando a cultura de festas jamaicanas com discotecagem em vinil e sistemas de som.
“Não podemos deixar uma data como essa passar em branco. Após a eclosão do movimento punk, toda a cultura mudou e foi influenciada pelo ‘Faça Você Mesmo’”, explica Luis Otávio Lopes, curador do evento e autor do blog Vi Shows. “Chamamos outros blogs da cena atual para atuar em coletivo e, com a ajuda deles, contatamos bandas e levantamos o projeto de forma 100% independente”, continua ele.
“É impossível pensar em música e arte sem levar em conta a espontaneidade desse estilo direto e urgente, mas capaz de sempre dar o recado apostando na relação direta com o público. Por isso mesmo que escolhemos fazer o festival em uma praça, em pleno sabadão de inverno”, conta Luis.
“É importante ser um evento de graça e na rua, aberto para todo mundo. Isso reflete o espírito punk levando acesso à cultura para mais pessoas e ocupando a cidade, que deve ser nossa”, diz Bárbara Monteiro, vocalista e guitarrista do Wabi Sabi e uma das organizadoras do festival.
Punky Reggae Party
Na abertura do festival e durante os intervalos dos shows a discotecagem fica por conta da Feminine Hi Fi. “Nos anos 70, na Inglaterra, as festas e shows punks sempre tinham jovens DJs de origem jamaicana, filhos dos imigrantes negros, tocando as últimas novidades musicais da ilha. Isso porque até 1977 as bandas punks ainda não tinham seus discos lançados. Como os jovens punks estavam ligados à população negra e periférica de Londres, principalmente, as festas eram feitas em conjunto e muitas vezes em combate ao racismo e à violência policial, que atingia fortemente os dois grupos. Os punks londrinos sempre foram intimamente ligados à música jamaicana por conta dessa proximidade e, entre os shows, ouviam discos de Ska, Rocksteady e Reggae, que era o último lançamento na época. Quisemos resgatar essa tradição e por isso convidamos o Feminine Hi Fi para tocar no festival ao lado das bandas de punk
rock”, explica Bárbara.
SERVIÇO
Festival Punk Rock 77
Data: 29/07/2017, sábado, das 13h às 20h
Endereço: Praça Horácio Sabino (10 minutos a pé do metrô Sumaré – Linha 2 verde do metrô)
Grátis
Programação:
13h Abertura e Feminine Hi Fi
14h Wabi Sabi
14h30 Feminine Hi Fi
15h Porno Massacre
15h30 Feminine Hi Fi
16h30 Miami Tiger
17h15 Feminine Hi Fi
17h45 Asfixia Social
18h30 Feminine Hi Fi
19h Cólera
20h Encerramento
Evento oficial no Facebook: www.facebook.com/events/1030653783734825.
Sobre os artistas:
Feminine Hi Fi
O coletivo feminista nasceu para combater a resistência contra mulheres na cena de reggae e dar espaço às DJs e cantoras na cultura sound system. A maioria dos eventos do projeto é feito na rua de graça, incluindo locais da periferia de São Paulo, interior do Estado e participações em festivais em todo o país.
Asfixia Social
Com dez anos de estrada e uma pegada política nas letras, a banda apresenta sua mistura única de rap, punk, ska, dub, hardcore, jazz, reggae, funk e metal retratando o cotidiano do grupo na periferia de São Paulo. Com três álbuns lançados, o grupo costuma fazer shows enérgicos que têm tudo a ver com as apresentações punks que misturavam música e ativismo nos anos 70.
Miami Tiger
Com letras em Inglês e Português e um vocal muito expressivo da cantora Carox Gonçalves, o quinteto lançou seu primeiro EP, “Amblose”, em 2016. O disco contou com a participação especial de Rodrigo Lima, vocalista da veterana banda de hardcore Dead Fish. Em novembro, lançaram um importante clipe com forte mensagem feminista para a canção “Meu Lugar”, retratando a violência contra a mulher no Brasil.
Wabi Sabi
A banda paulistana de nome japonês é um projeto solo e autoral de Bá Monteiro, jornalista e musicista envolvida com o movimento punk e hardcore desde 2002. A vocalista e guitarrista gravou seu primeiro EP em 2014, engavetou o projeto e agora retoma com nova formação. O disco de estreia conta com a participação dos músicos Guri Assis Brasil (ex-guitarrista da banda gaúcha Pública), Gui Almeida (atual baixista da Pitty), Luccas Villela (Jennifer Lo-Fi, INKY, E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante), Johann Vernizzi (Veronika Kills, Cabin Fever Club e Sleeping Sapiens) e Vini F. (Ecos Falsos, Bloodbuzz). No festival, a banda irá tocar músicas próprias e covers de clássicos do Punk 77, como Clash e Blondie.
Cólera
Formada em 1979, a banda foi uma das pioneiras do punk rock no Brasil e é reconhecida no mundo todo como um dos grupos mais expressivos da cena. Sempre em atividade e com letras politizadas e postura ativista, o grupo era liderado pelo inesquecível Redson, que faleceu em 2011. Desde então, conta com o jovem Wendel nos vocais. Veterana do festival, promete tocar canções de toda a carreira, que conta com mais de 10 álbuns.
Porno Massacre
O grupo, que já tem quase uma década, foi criado com inspiração em filmes de exploitation – gênero alternativo que teve seu auge nos anos 60 e 70 e que explorava muitas cenas de sexo, drogas e violência. A banda mistura estilos em seu som, indo do rock punk e glam ao jazz e rockabilly e forte identidade visual inspirada em grandes artistas dos anos 70, como New York Dolls e The Cramps. Para o festival, prometem covers de Sex Pistols (outra grande influência) além de músicas próprias.
Dani Pimenta é jornalista musical, DJ e produtora cultural. Está sempre atenta às tendências e novidades da música independente mundial. É fundadora do Groovin Mood.