GROOVIN MOOD ENTREVISTA: Mis Ivy fala sobre seu novo disco, “Escuta”

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Artista influente no cenário do Dancehall em São Paulo e ao redor do Brasil, a cantora, MC e compositora Mis Ivy é nascida e criada na periferia de São Paulo, especificamente no Capão Redondo. A paixão da artista pela música se desenvolveu durante sua estadia na Alemanha, onde teve seu primeiro contato com a música digital jamaicana, período crucial para a sua formação artística. Ao retornar ao Brasil, Mis Ivy se juntou ao coletivo Família 7 Velas, pioneiro na introdução e popularização do Dancehall no país, e daí em diante sua carreira deslancha.
“Escuta” é o segundo álbum de estúdio da cantora, gravado com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo através do edital de Fomento ao Reggae. A artista inovou ao misturar ritmos como rap, kuduro, brega funk e afro drill, mesclando ritmos africanos, brasileiros e influências modernas, como o drill, promovendo uma mensagem de justiça social, empoderamento e inclusão.
Tivemos um rápido bate-papo com Mis Ivy para falar sobre o novo disco e suas inspirações. Confira!
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Groovin Mood: “Escuta” chega depois de 14 anos de espera. Como foi esse processo de maturação até
esse momento? O que te motivou a lançar esse álbum agora?
Mis Ivy: Eu esperei 14 anos pra lançar um álbum porque eu não tinha dinheiro, e não queria fazer um disco de parceria com amigos para não entrar talvez naquele famoso processo de geladeira , que muitas vezes frustra os artistas. Meu amigo Humberto Morais, que é meu diretor artístico, investiu no álbum para que pudéssemos dar os primeiros passos de produção e em seguida fomos contemplados pelo edital do Reggae, aí pensamos “finalmente conseguimos o mínimo de estrutura para realizar esse disco”.
Groovin Mood: O álbum é descrito como um manifesto de empoderamento feminino e resistência negra. De que forma suas vivências pessoais e a sua trajetória artística estão refletidas nas faixas?
Mis Ivy: Eu tenho 20 anos de carreira no reggae e 32 anos de vida artística em geral , sempre tive um imenso apoio feminino durante toda minha trajetória , e entendi que a vida de mulheres que se parecem comigo, muitas vezes têm a mesma história ou muitos pontos em comum. Por isso que esse disco não é somente sobre mim , e sim sobre muitas mulheres. As músicas abrangem diversos temas, empoderamento , resiliência, frustração, entre outras. Quis trazer à tona todos esses sentimentos para que as pessoas se identificassem com meu coração para além da minha imagem de mulher forte.
GM: Você traz uma mistura rica de sonoridades — do rap ao kuduro, passando pelo brega funk e afro drill. Como foi a construção dessa identidade musical tão diversa e ao mesmo tempo tão coesa?
Mis Ivy: Durante esse longo período eu tive diversas experiências musicais , cantei com muita gente diferente , principalmente nas minhas temporadas na Bahia.Tive a certeza de que o lifestyle do sound system me fez uma cantora que conseguia cantar ragga em cima de diversos estilos musicais. Então decidi trazer outros ritmos que eu gosto muito para esse álbum. Ficou coeso pois são estilos que eu realmente me identifico e estudei para fazê-los, sendo assim colocando a minha identidade ao fazer.
GM: O remix de “Punnany Style” também está presente no álbum. Qual o significado de revisitar esse clássico dentro do novo projeto?
Mis Ivy: Sim, essa música se tornou um hino para as mulheres , então decidi fazer o remix com participação de outras mulheres. Fazer esse remix foi algo muito importante, principalmente por poder dar espaço para outras duas artistas que estão começando a cantar e sempre estiveram ao meu lado. O beat foi construído com muita pesquisa pois eu queria algo que ninguém estivesse fazendo, então unimos a musicalidade ancestral africana, com o moderno drill e uma pitada de Brasil com o funk . Essa música de fato mudou muito na concepção, pois ao invés de irmos para o chão como na primeira versão, agora eu vejo as meninas saindo do chão, na vibe do bate cabeça, então ressignificou a música em si.
GM: Quais são os próximos passos após o lançamento do álbum?
Mis Ivy: Agora estamos no processo para os shows, montando um espetáculo para além de música, e sim como uma experiência sensorial. A gente tá se dedicando muito para apresentar algo jamais feito antes.
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Dani Pimenta é jornalista musical, DJ e produtora cultural. Está sempre atenta às tendências e novidades da música independente mundial. É fundadora do Groovin Mood.