“De Africa a La Costa”: pesquisador Jose David difunde a cultura musical do Caribe colombiano e suas conexões – inclusive com o Brasil

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Foto: Zenia Valdelamar- El Universal

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Você imaginava que uma música da cantora brasileira Aparecida é um dos maiores sucessos da história dos picós (sistemas de som populares na Colômbia) e até ganhou um nome próprio por lá – assim como, por aqui, é comum ver as canções apelidadas em “melôs” no Maranhão? Sabia que o ragga e o dancehall têm influência direta na champeta, gênero musical urbano colombiano? Sabia também que uma das músicas do álbum brasileiro Batucada N°4, a faixa “Ritmos Do Nordeste: Arrasta-Pé”, na Colômbia virou a canção popularmente conhecida por lá como “El Mexicanito”, um sucesso imenso no carnaval barranquillero desde o final dos anos 1970?

 

 

Quem conta sobre essas e muitas outras conexões é o professor José David Orozco – ou Jose Davido, como é conhecido nas redes – natural de Cartagena e atuante na Instituição de Educação Técnica Agrícola Las Piedras, no município de Arenal (Bolívar). Ele vem conquistando milhares de seguidores nas redes sociais ao compartilhar conteúdos sobre a riqueza cultural da costa caribenha colombiana e suas conexões com a diáspora africana. Ele alia pesquisa, didatismo e carisma para explicar os significados e histórias por trás de músicas populares que atravessaram gerações, especialmente os ritmos afro-caribenhos que embalam festas, picós e celebrações na região.

Desde criança, Orozco cresceu ouvindo salsa brava e música africana, influenciado pelo pai, e a curiosidade sobre os significados das letras ou as origens de determinadas canções sempre o acompanhou. Músicas como “Satanás”, “Merengue Ye” e “La Mencha” despertavam nele perguntas sobre os títulos, os idiomas em que eram cantadas e os contextos em que surgiram. Sem acesso a fontes formais de informação na época, encontrou na internet a aliada ideal para começar a investigar.

 

Durante o confinamento imposto pela pandemia da COVID-19, começou a gravar vídeos em seu quarto com o celular e os compartilhava inicialmente pelo WhatsApp. A receptividade imediata dos contatos o encorajou a ampliar a divulgação para outras plataformas. Hoje, seu perfil no Facebook já ultrapassa os 240 mil seguidores, o canal do YouTube mais de 13 mil seguidores, seu perfil no Instagram conta com mais de 25 mil pessoas, e seu TikTok, mais de 150 mil. Em seus vídeos, ele busca valorizar o que chama de “império costeiro”, incentivando o orgulho pelas tradições locais e combatendo estigmas sobre os povos da costa colombiana. Um dos trechos mais populares de suas postagens reforça esse compromisso: “É hora de deixar de lado os comentários negativos sobre os costeños. Contribuímos enormemente para a história, tradição e cultura do país. Há muito para se orgulhar no norte da Colômbia”.

O primeiro vídeo que viralizou abordava a música “Simulación”, um vallenato (música colombiana muitíssimo similar ao nosso sertanejo mais tradicional, mais raiz) composto por Rafael Manjarrez e eternizada pelo cantor e compositor colombiano Diomedes Díaz. Jose Davido explicava o significado de um trecho da canção, despertando identificação imediata entre internautas que também tinham dúvidas sobre a letra. Esse foi o ponto de virada que o fez perceber o tamanho do interesse coletivo sobre o tema.

Com o tempo, o educador identificou um nicho de seguidores especialmente interessados na música africana. Foi então que criou seu slogan “Da África para a Costa” e passou a se aprofundar no tema. O impacto de suas publicações se reflete nos inúmeros comentários de agradecimento de seguidores de cidades como Cartagena, Barranquilla e outras localidades do Caribe colombiano. Seu conteúdo tornou-se referência também para grupos e pesquisadores que atuam na promoção da cultura afrodescendente.

 

A produção dos vídeos segue um processo rigoroso: inicia com a pesquisa, passa pela elaboração do roteiro, gravação, edição e, finalmente, publicação. A disciplina e consistência, com publicações semanais, são fatores essenciais para a expansão do projeto. Orozco já chegou a colaborar com cidadãos de diversos países africanos para traduzir canções em línguas locais para o espanhol — como no caso da champeta “El dios del amor”, oriunda de Camarões, onde mais de 116 idiomas são falados.

Apesar do sucesso nas redes, o professor ressalta que seu trabalho ainda está no começo. Consciente da ausência de políticas públicas efetivas para o fortalecimento das expressões culturais locais, acredita que o poder da educação e da comunicação pode mobilizar mudanças.

 

 

 

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