Jimmy The Dancer: o dançarino porta-voz da cultura de pista de SP

Jimmy the Dancer - Foto: Miguel Salvatore
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Se você já frequentou as festas de dub em São Paulo nas últimas décadas, é bem possível que tenha esbarrado — ou parado para admirar — na dança hipnótica e energética de Jimmy Siloas, conhecido nas pistas como Jimmy The Dancer. Com 45 anos de idade e quase três décadas de presença constante nos bailes da cidade, Jimmy é uma figura icônica e, para muitos, mítica. Sua caminhada atravessa diferentes cenas e momentos da vida noturna paulistana, mas vai além da dança: é também uma história de superação, arte e resistência. Conversamos com Jimmy pra entender um pouco mais sobre a sua trajetória.
Vídeo: Miguel Salvatore
Sua relação com a música começou ainda nos anos 90, em meio à efervescente cena eletrônica underground da capital.
“Eu era o Sorriso, do drum & bass, no final dos anos 90, mas frequentava todo tipo de rolê. Era moleque novo, frequentava as casas de eletrônico do underground de São Paulo que já não existem mais. Rainbow, Nation, Sound Factory, Toco, Love.E, A Lôca. Também ia no KVA, Remelexo, Broadway, todos os tipos. Eu ia como público, mas eu ia pra dançar, já tinha o Jimmy nascendo em mim”, conta.
Enquanto a maioria buscava diversão nos clubes da cidade, Jimmy mergulhava nas pistas com outro propósito: o movimento, a expressão corporal, o início de uma identidade artística que ainda não tinha nome, mas já estava sendo construída. Ele lembra das casas noturnas icônicas e da liberdade que encontrava nos mais diversos espaços.
“Eu fazia meu corre na semana, trabalhava panfletando balada. Daí conheci amizades erradas, acabei indo num caminho não muito daora. Mas conheci bastante gente religiosa, uns haitianos, nigerianos, e aí as coisas foram mudando. Trabalhei no Susi in Transe e fui conhecendo os bailes, tipo Susi in Dub, Stamina (Dancehall) na Jive. Ia também pro Vegas, Sarajevo… Eu tava em qualquer cena, eu era nômade.”
Jimmy transitava por diferentes ambientes, sempre atraído pela música. Mas também enfrentou desafios, como a vivência nas ruas. A dança, no entanto, nunca deixou de ser um farol — um lugar de resistência e sobrevivência.
“Saí da rua tem 12 anos, né? Mas ninguém nem imaginava, não parecia que eu era morador de rua, nunca me entreguei, continuei trabalhando. Fui tentando me organizar na moradia com o meu corre, o meu trabalho, e com o auxílio de uma grande rede que me ajudou, ainda me ajuda até hoje.’”
Hoje, Jimmy vive uma realidade diferente — construída com trabalho, persistência e uma forte rede de apoio. Ele é presença constante nas principais festas de dub e dancehall da cidade, mas também leva sua arte para outros espaços. É artista visual, promoter e um símbolo da autenticidade das pistas.

“Hoje trabalho com o Java Roots Dub, Fresh Dancehall, Entrópica, Prato do Dia, Patuá Discos, Bixiga 70. Moro sozinho, tenho minha casa, meu ateliê, vendo meus desenhos. E eu não vendo pela internet, só no estilo original: se eu tiver aqui, agora, espontâneo, eu ofereço. Eu gosto assim.”
Mesmo envolvido com o universo da noite, Jimmy afirma que seu objetivo é o compromisso com a arte e a energia que leva para as pistas.
“Tem gente que trabalha na noite e quer ficar na Babilônia. Eu não. Ganho meu dinheirinho com meus trampos, sou promoter, levo alegria nas festas. Underground é o personagem que eu criei. Ele é poucas, ele dançando é iluminado, leva alegria pra pista. Quem tá ligado, tá ligado.”
Vídeo: Miguel Salvatore
Jimmy também escreve, desenha e vive a cultura — algo que o ajudou a atravessar os momentos mais difíceis da vida.
“Quando eu morava na rua, eu frequentava a Biblioteca Mário de Andrade. Eu ia lá, todo limpinho, com minha mochilinha, e ia ler um livro. Eu ia nos centros culturais ver filme, teatro de graça, fiz oficina de dança. Mantenho minha mente com escrita, leitura e eu desenho.”
“Minha arte é completa. Quando eu desenho, quando eu pinto, quando eu danço, eu atraio positividade. Hoje em dia o pessoal tá esquecendo de ler um livro, desenhar, mexer com tinta. Eu digo: pega a raiva, a tristeza, taca tudo na arte!”

Para quem está chegando agora na cena, ele deixa um conselho direto e necessário:
“Meu ponto de vista pros jovens que tão colando na noite, no reggae, na música, nos barzinhos: focar, brother. Não fique muito louco com drogas. Foca na música, foca na dança, leva alegria. Não perder a fé. O que eu gosto na noite? É que dá pra fazer amizades boas. Mas se você não focar em amizades boas, você cai. E você cai de uma maneira… Vamo focar, rapaziada.”
Figura carismática, dançarino nato, artista de múltiplas linguagens e voz potente dentro da cultura de rua paulistana, Jimmy The Dancer é mais do que um personagem das festas — é uma presença impactante.
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Dani Pimenta é jornalista musical, DJ e produtora cultural. Está sempre atenta às tendências e novidades da música independente mundial. É fundadora do Groovin Mood.