Série “Sound System: O Caminho da Música” mostra o processo de criação musical do estúdio até o sound system
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Quando a música ecoa dos falantes de um sound system, é difícil ficar parado. Toda a potência dos graves e a força da mensagem tomam conta de quem está presente. Mas qual é a estrada que essa música percorre até que chegue aos nossos ouvidos em uma sessão?
A série “Sound System: O Caminho da Música”, lançada pelo projeto Sobfrequência, possui sete episódios e foi concebida como um piloto, com o objetivo de apresentar ao público o processo de criação de uma música do zero. “Para registrar esse processo, apresentamos personagens que não necessariamente estão à frente dos sistemas de som, mas são centrais para o desenvolvimento dessa cadeia crucial da cultura SS. Gravado em SP, cada episódio registra uma etapa diferente do processo, através dos seus agentes, personagens de destaque da cultura no estado”, explica Miguel Salvatore, produtor cultural e fotógrafo à frente do projeto e co-idealizador da série junto a Jamil, da equipe Djanguru Sound System.
Cada episódio da série traz entrevistas e o registro de uma etapa diferente do processo, passando pela criação do riddim, captação e gravação de vozes, mixagem, dub, masterização, o corte do disco e finalmente, a música batendo forte nas caixas. O projeto foi realizado com o apoio do Programa de Fomento e Apoio à Criação Artística para a Linguagem Reggae/Rastafari, da Secretaria Municipal de São Paulo.
Segundo Salvatore, que tem desenvolvido projetos que buscam dar relevância à produção cultural das equipes de som fora do contexto das festas, “toda cultura é dotada de conhecimento e também produtora de saberes técnicos, históricos, econômicos e sociais. Jamil, por sua vez, é acima de tudo um educador, o cara é uma máquina de contar história e gosta do aspecto analítico das coisas. A série nasce de uma ideia maior, mais detalhada, com inserções e produção refinada. O edital proporcionou a oportunidade de executar essas experiências com certo profissionalismo, mesmo com as limitações orçamentárias”.
A série conta com a presença de nomes como Mister Ites, Júnior Toaster, Ualê Figura, Sistah Chili, Fernando Rocha, Bob G, além do próprio Djanguru Sistema de Som.
Miguel também explica a escolha do formato série em vez de um único filme documental. “Produzir um documentário no estilo que idealizávamos — sem defender um argumento central, mas abordando questões técnicas e curiosidades dos bastidores da produção — demandaria mais tempo e recursos. Optamos por um piloto para compreender a dinâmica de produção de um documentário. Nosso orçamento não comportava inserções, pesquisa aprofundada, mais de uma visita aos espaços ou um roteiro detalhado antes das filmagens. Embora o edital já tenha financiado filmes muito relevantes, muitos deles partem de um argumento ou conceito central. Nosso objetivo era, de forma imersiva, envolver o espectador nas etapas da produção de um riddim. Como iniciantes no cinema, optamos por um formato de bate-papo, organizando os temas em episódios, o que também pode ser visto como um híbrido entre documentário e videoaulas”, explica.
Quando perguntado sobre qual o impacto a série pode trazer para a cultura sound system, Salvatore é enfático. “Não gosto desse conceito de impacto; parece algo corporativo, associado a grandes recursos e operações. Não existe impacto no sentido estrito, mas sim uma contribuição. Um material como este pode ser esquecido, reutilizado daqui a décadas ou despertar o interesse em algumas pessoas. O fazer cultural frequentemente lida com paixões, e seus efeitos não podem ser medidos, exceto pela história ou pelo reconhecimento de seus pares. Nestes 23 anos de cultura em São Paulo, cada novo sistema, plate, MC, baile, clipe ou produção audiovisual se soma e reforça a realidade que chamamos de “cena”. Se for para falar em impacto, a série é mais um elemento somado ao movimento reconhecido como Soundsystem, tanto aqui quanto no exterior. Mas, naturalmente, ela também elucida um pouco sobre as etapas de produção da música reggae para o público leigo”.
Assista à série completa:
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Dani Pimenta é jornalista musical, DJ e produtora cultural. Está sempre atenta às tendências e novidades da música independente mundial. É fundadora do Groovin Mood.