Festas de rua em SP: muito além dos “grandes eventos”

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Diante da grande onda (onda, onda, olha a on-da!) de matérias e reportagens falando sobre as festas de rua em São Paulo (sobretudo as de música eletrônica e outros grooves similares), achei por bem dar aquele pitaquinho maroto. Como eu disse em uma postagem no meu Facebook, o lado bom dessas matérias, mesmo que elas ignorem a existência de um movimento muito mais forte do que elas conseguem enxergar, é o fato das festas nas ruas estarem cada vez mais presentes, tendo mais relevância, levando mais gente pra se divertir tomando conta do que é nosso por direito.

Na real, ó o que são os primórdios mesmo...
Na real, ó o que são os primórdios mesmo…

Já o lado ruim mostra os veículos insistirem (não é a primeira nem segunda nem décima vez que eu vejo essas matérias) em afirmar o pioneirismo e/ou a importância de coletivos específicos, como se festas na rua fossem algo novo, ou esquecendo do fato de que os sound systems também fazem festas todos os finais de semana, também gratuitamente, também pra todo mundo.

Não é questão de dizer que fulano é melhor que cicrano, que reggae é melhor que eletrônico, que a galinha nasceu primeiro que o ovo, afinal não é uma disputa, e quanto mais gente na rua ouvindo mais música, independente do que seja, muito melhor! O importante seria deixar claro que essa crescente ocupação é feita por muito mais gente, em muito mais lugares, e o mais legal: fora do centro, muitas vezes sem apoio oficial, e dando acesso à quem nem sempre é o público-alvo desses eventos maiores. Ou seja: tá certo, mas tá um pouco errado.

Sempre rola, mas os caras não veem... O azar é só deles!
Sempre rola, mas os caras não veem… O azar é só deles!

Porém, como o Groovin Mood é um site da paz e do amor, em vez de dar aquela brigadinha com os redatores que não aprofundam suas pesquisas, resolvemos nós mesmos mostrarmos que, por menos que apareçam nas ~mídias badaladas~, as festas de rua da cena de reggae estão aí há MUITOS anos levando cultura e diversão não só para quem tem acesso, mas também e principalmente para quem mais precisa e quer se divertir.

Sound system: onde mora o pioneirismo

Um dos maiores precursores das festas de rua em SP certamente é o Dubversão Sistema de Som. Das festinhas nos bares e botecos da zona oeste nos primórdios dos anos 2000 às festas lotadas de hoje em dia, o coletivo capitaneado por Yellow P foi quem ajudou a começar a “bagunça” toda, graças à JAH! Eu, você, e muitos dos seus amigos fomos influenciados pelo trabalho desses caras, mesmo que muitos de nós nem paremos para pensar nisso.

Outros grandes nomes , como Quilombo Hi Fi, Jurassic Sound System, e cara, MUITOS outros (não vou conseguir citar todo mundo aqui, obviamente, então não me levem à mal, NÃO ME BRIGUEM), também devem levar a faixa de “pioneiros das festas de rua”, pois tinham (e ainda tem) a capacidade de arrastar pequenas multidões para onde forem, seja no centro, no bairro ou na periferia.

Quem faz a movimentação das festas de rua em SP

Hoje, muitos coletivos ligados em música da Jamaica levam suas festas para as ruas de SP, e na maior parte das vezes, sem apoio oficial, de Prefeitura, Governo, Polícia. Muitos tiram do próprio bolso uma grana importante, que vai fazer falta depois, em nome de um bem maior, que é oferecer um pouco de diversão pra sua quebrada. Muitos se viram pra comprar equipamento e discos pra manter viva a cultura sound system, do jeito que ela merecer ser preservada (e não me venham com esse papo de original press, repress, etc. O que ao meu ver importa, sinceramente, é a emissão da mensagem. Claro que um disco original tem seu valor sentimental, histórico, e até mesmo fonográfico quando a qualidade é superior, mas isso é papo pra outra hora). Muitos enchem de música e alegria bairros como o Capão Redondo, a Cidade Tiradentes ou a Brasilândia, pra citar alguns, que as crews consideradas revolucionárias pelas mídias maiores sequer chegaram perto (se generalizei me desculpem de antemão, mas até hoje nunca vi nenhuma delas distante do centro – infelizmente, diga-se de passagem, pois seria bacaníssimo!).

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Tem no centro, mas também tem no Capão Redondo.

É CLARO que eu vou deixar de citar muita gente que merecia ser citada, mas meu respeito é o mesmo pra todos que trabalham em prol de espalhar de verdade o que acreditam, o que ouvem e o que desejam. Dubversão, Quilombo, Jurassic, High Public, Youthmans, Leggo Violence, Mozziyah Hi Fi, Zion Gate, Africa Mãe do Leão, Garage Sound System, Ghetto Selectors, Kas Dub, U-Dub 420, Trezeroots, JZ Sound System Phavella, e todos os sounds de SP e do Brasil inteiro, e um salve também pra todos que não são sound system, mas que também exibem aquele brilho no olhar quando sabem que estão, acima de tudo, compartilhando diversão e oferecendo, quem sabe, um pouco da maior arma que a gente pode ter: conhecimento.

Quanto aos demais coletivos que tanto surgem na mídia, eles devem continuar surgindo e sendo citados sim, pois fazem o trabalho deles, e é bem feito dentro da proposta que tem, e jamais podemos tirar o mérito. Incorreta está a mídia especializada (e a não especializada também), que não aprofunda suas pesquisas e não mostra que sim, tem festa na rua, mas não são só elas que são “a cara de São Paulo”.

Um adendo atualizando esse texto:

Não é babação de ovo pro lado dos sounds, nem puxada de sardinha (parece um pouco, né, mas não é não) nada disso. É só a velha reflexão: essa tal de ~nova onda~ de festas de rua que Veja´s da vida estão dando atenção agora já acontece com força, não só no centro mas também – e principalmente – na periferia, justamente com os sounds.

É excelente que as festas “de agora” (que nem sempre são de agora, apesar da própria mídia fazer questão de tratar assim) recebam atenção, a gente tem sede de diversão, cultura, compartilhamento de momentos, de experiências, e esse pessoal que faz isso não chegou agora, tá aí faz um tempão e merece destaque e reconhecimento pela movimentação linda que fazem. E, claro, falo de SP porque é aqui que moro e infelizmente não conheço como rola em outras cidades.

Que fique bem dito que a crítica não é em relação às festas em si, e sim ao modo como a imprensa trata isso (que né, não sei porque a gente ainda se surpreende, rs).

(por Dani Pimenta)

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