Groovin Mood entrevista Muamba Sounds
Um dos maiores nomes do cenário reggae/sound system brasileiro quando o assunto é dubplate, a crew Muamba Sounds está prestes a completar uma década de atividades agora em 2017. Formado pelo trio de palmeirenses gente boa Fepa, Beera e Flavio Rude, o Muamba comemora mais um ano na ativa de um jeito muito especial: em agosto representa o Brasil no festival Jamaica Sound Fest, lá em terras jamaicanas mesmo.
Bati um papo com o Fepa, que falou sobre a trajetória do Muamba e dos planos com o coletivo, e ainda bolou uma mixtape só de dubplates, exclusivona pro Groovin Mood, que você ouve aqui embaixo. Respect!
[soundcloud url=”https://api.soundcloud.com/tracks/266825992″ params=”color=ff5500&auto_play=false&hide_related=false&show_comments=true&show_user=true&show_reposts=false” width=”100%” height=”166″ iframe=”true” /]
(por Dani Pimenta)
Groovin Mood – Como começou a história do Muamba?
Fepa – O Muamba Sounds nasceu em 2007 com uma missão: gravar dubplates, promover o juggling e tocar new roots e dancehall. Esses eram os aspectos da cultura sound system que eu sentia falta nas festas daqui. Já fazia um tempo que o Dubversão tinha se consolidado como referência em Sampa e o Digitaldubs no Rio e eu sempre tocava nas festas deles (como Dj Fepa), mas as festas e principalmente as seleções eram muito diferentes do que eu ouvia em festas jamaicanas. Os artistas que estavam explodindo mundo afora eram desconhecidos por aqui e quase ninguém sabia o que era dubplate. Eu já tocava fazia um bom tempo e resolvi criar o Muamba para tentar acrescentar algo nesse caldo.
Groovin Mood – Quem fez parte da primeira formação e como é a crew hoje?
Fepa – O Muamba nasceu comigo (Fepa) e na época eu tinha um projeto com meu irmão (Bigode) que se chamava 34 A. Como bom irmão incluí o projeto no Muamba. Depois chamei meu amigo de longa data Jah Fly e essa foi a primeira formação oficial. Com o tempo o Jah Fly teve que partir pra outros corres e fiquei um tempo sozinho. Percebendo que eu precisava de sangue novo e um novo gás chamei o Flavião (Flavio Rude) que é meu amigo de longa data, dos tempos do Jungle, e depois o Beera, que era um destaque na cena pra mim. Essa é nossa formação atual. Mas uma das coisas que acho legal no Muamba é que não existe a obrigação da dedicação exclusiva. Eu por cinco anos me dediquei muito a festa Fresh!, que idealizei com com dois djs da minha geração e parceiros de longa data (Magrão e Stranjah) e que revolucionou o conceito de festas de reggae em Sampa. O Flavião tem um milhão de corres em Campinas e o Beera toca o Gimenes Sounds com o irmão dele. Ser muambeiro é algo que exige prazer e não obrigação.
Groovin Mood -Qual o principal objetivo do Muamba?
Fepa – É difícil falar em objetivo. Como disse antes, no início eu acreditava que tinha uma missão que era mostrar uma outra faceta da cultura sound system pro público brasileiro. Lutei muito e provavelmente falhei na tentativa de criar uma cultura de soundclash no Brasil e de valorização dos dubplates. Rodei boa parte do Brasil com o Muamba e sou muito grato por tudo que conquistei. Mas hoje penso um pouco diferente. Tenho como único objetivo promover a diversão do público, fazendo o que gosto que é tocar dubplate. Com o crescimento absurdo da cena e uma infinidade de novos sounds e festas, acho que é hora de cada vez mais ficar de canto. Tudo é muito diferente de quando comecei e não sei se gosto de tudo que anda acontecendo. Como todos têm direito de fazer seu som, do jeito que quiserem, no formato que acharem adequado, prefiro me afastar do que não gosto ao invés de criticar. Se o público está feliz com as coisas como estão, quem sou eu para falar algo. Só não dou suporte para aqueles que, na minha opinião, não acrescentam nada. Tô ficando velho, com 15 anos de estrada, e não tenho mais aquela necessidade de ser querido, de ser referência pra molecada. Continuarei na minha toada, gravando dubplates e me apresentando junto àqueles com quem compartilho valores.
Groovin Mood – Qual foi o momento mais marcante do Muamba até hoje?
Fepa – Difícil escolher um momento. Todos os clashes foram inesquecíveis, principalmente o Take a Ride (2012) que foi o primeiro clash com quatro sounds do Brasil. A turnê de 8 anos (2015) junto com o Sentinel (Alemanha) foi a realização de um sonho, que era trazer um campeão mundial pro Brasil, mas foi também um momento de reflexão sobre o que realmente é a cena sound system brasileira, suas preferências e prioridades. E foi o momento que percebi que a direção que a cena tomou não é a que quero pra mim.
Groovin Mood – O Muamba vai tocar no maior festival de sounds da Jamaica, o Jamaican Sound Fest. Como foi que isso aconteceu e o que você está sentindo?
Fepa – Esse convite foi o reconhecimento por 9 anos de trabalho em prol de uma cena nos moldes jamaicanos. O pessoal do Sentinel ficou bastante impressionado com a nossa história e nossa batalha. Eles apresentaram nosso corre pro pessoal do Bass Odyssey, que organiza a festa, e ao conhecerem nossa trajetória nos convidaram pro festival. Ao receber o convite fiquei até sem fala. Até agora a ficha não caiu completamente e só de pensar que em breve estarei na Jamaica dividindo palco com meus ídolos me faltam palavras.
Groovin Mood – Manda uma mensagem pros nossos leitores! 😀
Fepa – Só gostaria de agradecer toda força que o Groovin Mood tem dado para a cena sound como um todo e aproveitar pra divulgar as páginas do Muamba no Soundcloud e Facebook.
Dani Pimenta é jornalista musical, DJ e produtora cultural. Está sempre atenta às tendências e novidades da música independente mundial. É fundadora do Groovin Mood.
Muito boa a mixtape do Fepa. Boa sorte pro Muamba lá na Jamaica!!