Projeto cria acervo digital com cartazes de festas sound system em SP

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“A cultura do sistema de som é pautada pelo desenvolvimento e produção de acervos. Para esse contexto, a palavra “memória” é mais adequada, um acervo é uma memória viva”. Foi partindo deste princípio que o fotógrafo e produtor cultural Miguel Salvatore, figura fundamental do início da cultura sound system em São Paulo, criou o projeto Sobfrequência Time Will Tell, que reúne centenas de peças gráficas que retratam o trajeto histórico das festas e eventos realizados na Grande São Paulo nos últimos 20 anos.

“O projeto é uma plataforma web onde cartazes são digitalizados, ou recolhidos em sua forma digital de arquivo, e organizados numa linha do tempo. Então, você pode viajar pelas festas e suas estéticas gráficas de comunicação”, explica Salvatore.

Miguel sempre esteve envolvido com a cultura digital, sistematização de acervos e trabalhos de mapeamento cultural – bem como com a cultura de sistemas de som. “Entendo que organizar informação de qualquer natureza pode, com o tempo, nos revelar questões sobre o “objeto” de estudo. Para as questões de Estado, são de suma importância para a gestão e desenvolvimento de políticas públicas. No caso do projeto Sobfrequência Time Will Tell, foi a continuidade do trabalho que publicamos, o fotolivro Sobfrequência, que não está organizado como banco de dados, mas é um mapeamento de fotógrafos que por anos contribuíram com as equipes de som para a difusão e consolidação da cultura na cidade”.

O projeto foi realizado por meio do fomento municipal que ficou conhecido como “Edital do Reggae”. “Como em São Paulo tivemos uma profusão de Sistemas de Som e tendo o edital da SMC/SP Linguagem Reggae como financiador, projetos impensáveis, por conta dos valores em reais envolvidos, ganham a possibilidade de existir. A plataforma que lançamos é apenas, por enquanto, uma potência”, explica.

Miguel Salvatore

Com até o presente momento 250 cartazes publicados, já é possível observar a riqueza de formas, traços e técnicas de produção da comunicação visual das festas de sistema de som. “Somada à organização temporal, demos um salto: você pode filtrar a linha do tempo por Bairro, por nome do artista que participou do line-up da festa e o artista gráfico que fez o cartaz”. Segundo Miguel, por enquanto, o Sobfrequência vai buscando de forma aleatória os cartazes, “pois a quantidade de festas não nos permite abranger toda a produção. Temos um pequeno recorte que pode ir ganhando novas entradas na plataforma. Inclusive, estamos abertos para isso: tanto para ajudar a digitalizar cartazes mais antigos e impressos como para receber os arquivos para subir na plataforma”.

A importância dos acervos na cultura sound system

O projeto foi viabilizado com o fomento da Linguagem Reggae da Secretaria da Cultura de São Paulo, um profissional de design que foi o produtor musical Hatto, um desenvolvedor web e especialista em acervos digitais, Marcio Yonamine e Miguel Salvatore como idealizador e produtor do projeto.

“Medir impactos é complicado, mas o nome do projeto Time Will Tell é uma reflexão. A passagem do tempo é quem desenha ou nos possibilita desenhar a história, assim como seus traços e vestígios, sejam materiais ou orais. Permite criar, recriar e acessar o passado, presente e futuro. Pois se engana quem tem a percepção de que o passado é uma causa pétrea. O passado também é dinâmico e também pode ser “pilhado”, “alterado”. A reunião destes cartazes de sistema de som revela muito mais do que uma variedade de estéticas e de equipes de som. Eles nos permitem observar os territórios da cidade onde ocorrem ou ocorriam, ter uma compreensão da multidão de artistas que participam e também fazem a cultura girar”, ressalta Salvatore.

“Em parte, a cultura eletrificada e feita sobre registros (as gravações, os vídeos, os livros) faz da informação um valor sociocultural. Então, existe uma potência de impacto, uma possibilidade, pois se não fossem os registros, documentários, acervos e os esforços de organizar informação, o reggae que tanto amamos talvez não tivesse a projeção que possui, mesmo sendo uma cultura que teima (graças a Jah) em ser marginal”.

Os 250 cartazes por hora publicados (a cada mês algo de novo entra) trazem 40 artistas gráficos e mais de 300 artistas em mais de 50 territórios. “Ou seja, imagine a utopia de conseguir registrar mil cartazes. Já é uma amostra que nos permitirá fazer perguntas para esse acervo do tipo: Qual o ano com mais festas? Quais artistas são mais recorrentes? Você poderá ver também como os artistas circulam nas festas e como os artistas gráficos colaboram com mais de uma equipe”, explica.

Como colaborar com a plataforma?

“A equipe de som que tenha material impresso e não tenha como digitalizar (geralmente as festas mais antigas antes do fenômeno do Facebook) pode enviar uma mensagem direta para o perfil @sobfrequencia que temos como digitalizar o material. E quem tenha os arquivos dos cartazes, temos um link para receber o material. Nesse link, tem as instruções. Estamos privilegiando cartazes de festas com ao menos um sistema de som presente no baile”, conclui Salvatore.

 

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