Entrevista: Roda de Ska reúne referências de Jamaica, Inglaterra e Brasil e movimenta o RJ

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Imagina juntar o conceito de uma roda de samba com a sonoridade do ska? Pois é assim que funciona a Roda de Ska, evento que acontece no Rio de Janeiro e que tem crescido muito a cada nova edição, atraindo como público gente de todo canto – literalmente, como foi o caso da aparição do vocalista do Coldplay, Chris Martin, na roda.

O Groovin Mood bateu um papo com Léo Murunga, um dos fundadores da Roda, que explicou pra gente como a ideia nasceu.

Reprodução/Instagram

 

“A Roda é filha de um outro projeto chamado Los Benicios Faltosos, que surgiu em dezembro de 2015. Nessa data, eu convidei amigos para celebrarmos meu aniversário no bar de um primo meu no interior do Estado do Rio. A ideia era fazer como as rodas de samba. Sentar, beber, se divertir e fazer um som. A diferença é que a gente queria tocar The Specials. Isso aconteceu, um amigo registrou e postou. Outros amigos viram, pediram pra gente repetir a dose, mais amigos se juntaram e a brincadeira acabou virando um projeto musical regular, tocando em Volta Redonda e Barra do Piraí. Um ano depois a gente tava no Circo Voador abrindo show do Skank. Fizemos algumas rodas na capital também. Até que veio a pandemia e o projeto parou”.

Léo contou que, pouco antes da pandemia, a ideia era levar a roda para a praia, mas que ainda não tinha oficialmente o nome que tem hoje. “Um pouco antes da pandemia eu já estava falando com a galera que a gente tinha que levar nosso projeto pra praia, que ska e reggae têm tudo a ver com praia e Rio de Janeiro. Não rolou. Com o declínio da pandemia retomei a ideia, mas poucos membros dos Benicios animaram/podiam colar pra fazer aqui na cidade. Com isso, dei um toque no Paulo Monnerat, que é do Don Robalo e Jamelão Sound System, ele curtiu a ideia, chamou mais gente e formou-se um novo projeto com o mesmo espírito do LBF, incluindo o fato de não haver ensaios. A gente combina por WhatsApp qual o repertório e chega na hora cada um faz o seu. Então, a Roda de Ska, com esse nome e formação, existe desde julho deste ano”.

 

Foto: Ludmila Figueiredo

Ska no Arpoador

A Roda é formada por alguns membros de bandas ativas e extintas, como Don Robalo, Zé Oito, Jamelão Sound System, Los Benicios Faltosos, Fanfarra Black Clube, Roots Jazz e Djangos. “E somos nós mesmos que cuidamos de tudo. Tudo na raça. O Fantasma, por exemplo, todo dia que a gente vai tocar, roda 400km, saindo de Barra do Piraí (cidade no sul do estado do RJ), passando em Volta Redonda para pegar outros integrantes e daí seguir pro Rio. Sem essa disposição dele, a Roda de Ska não aconteceria”, ressalta Léo.

E é na Praia do Arpoador que a magia acontece atualmente e o povo cai no ska, porém o projeto tem intenção de expandir o alcance. “Temos uma parceria muito bacana com o Alalaô Kiosk, que fica no Arpoador. Ele dá todo o suporte pra parada acontecer da maneira que a gente quer que aconteça. Temos armado a Roda ali uma vez por mês, à medida que o clima permite, já que é a céu aberto. Já estamos com planos pro Carnaval e também de levar a Roda para outros locais e públicos”.

A música e o poder de reunião

E a Roda de Ska caiu mesmo no gosto da galera. Perguntamos ao Murunga quanta gente costuma aparecer, e a resposta foi “Caramba! Não faço ideia. Tem dado muita gente, mas a gente sentado ali tocando não percebe o volume. Não tem palco, né? Então, a gente fica mais baixo que o público e enxerga ali umas duas ou três camadas de pessoas ao nosso redor tentando nos ver. Mas quando a gente vê as fotos e vídeos é que entende que a parada é como uma cebola com várias camadas de pessoas curtindo ali com a gente. Desde a primeira Roda, acontece mais ou menos o mesmo. A gente começa cedo, já tem ali algumas pessoas e à medida que o sol vai se pondo o número de pessoas vai só aumentando. E a cada edição tem mais gente.”

O repertório passa por sons autorais, vários clássicos do ska jamaicano e inglês, alguns reggaes e versões pra músicas que não são originalmente ska, de artistas como Stevie B, Tim Maia, Chico Science, George Michael, Ricky Martin e Eurythmics. “Essas versões, as bandas-mães já tinham em seus repertórios, o que facilitou a assimilação pelos membros das outras bandas”, explica Leo.

Episódio Chris Martin

“Eu vi o cara desde a hora em que ele chegou ali meio sem entender o que era aquilo. Mas não o reconheci. Fiquei tentando lembrar de onde o conhecia, achei que era de algum lugar do Rio mesmo. O Rafo, que tava na percussão o reconheceu e ficou tentando sinalizar pra mim enquanto tocávamos, mas não me liguei. E alguém chegou no ouvido do Paulo, que tava cantando Praieira, e falou pra ele. Paulo deixou escapar um “sério??” mas seguiu o baile normalmente. Quando paramos de tocar é que começou um a falar pro outro. Foi engraçado”, conta Leo.

E isso acabou dando o que falar, literalmente. “Deu uma baita repercussão, né? Alguém o identificou numa filmagem, o João Barone compartilhou, depois Paralamas, Hugo Gloss, perfis da Veja, do Globo… E isso foi na segunda edição da Roda. Estávamos com 200 seguidores no Instagram. 2 dias depois fomos pra 2000. Então, sim, deu uma baita visibilidade, gente importante na música brasileira descobriu que a gente existia. Pô, Nação Zumbi e Paralamas são, pra mim, as duas melhores bandas do país e ambas estão nos seguindo e compartilhando coisas nossas. Isso é surreal”.

Perguntei pro Leo se, além do episódio Chris Martin, teve mais algum famoso na Roda de Ska. “O Bono ficou de colar na roda de novembro mas furou. Hehehe. Brincadeira! Acho que não rolou mais nada maluco assim. Ali no Arpoador sempre tem famoso circulando, né? Atores, atrizes, jornalistas… sempre tem um rosto conhecido nos observando ali. Ah, no mesmo dia do Chris Martin uma amiga identificou um desses Orleans e Bragança lá assistindo. Mas esse a gente não considera relevante”.

 

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