Entrevista – Jurassic SoundSystem.

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Cada vez mais conhecida e respeitada na cena reggae dentro e fora de São Paulo, a Jurassic Sound System, único sistema de som especializado em ska, rocksteady e early reggae no país, colhe os frutos de um trabalho feito com paixão e profissionalismo. Recentemente e oficialmente unida à família You & Me on a Jamboree, a Jurassic, na figura do irreverente seletor Alex Jurássico, conversou com o Groovin Mood. Jurassic don´t fear, soundboys!

Groovin Mood – Alex, como começou seu contato com a música jamaicana?
Jurássico – Bom, como a maioria dos brasileiros, para mim não foi diferente a iniciação no reggae e sua cultura: conheci por Bob Marley. Em um primeiro momento, não dei muita atenção àquele ritmo que me foi apresentado quando ainda era criança, mas anos mais tarde, novamente algo me chamou a atenção no som de Marley. Não eram seus velhos clássicos, e sim uma compilação com trabalhos antigos dele, aliás, os primeiros de Bob, como Judge Not, One Cup of Coffe, One Love, Hammer, Hypocrites… Comecei então a ir atrás de mais sons com esse estilo, do próprio Marley, e quando meio que se esgotou esse leque musical dos Wailers e do sr. Robert, comecei a procurar por outros artistas. Foi aí que conheci o roots e também o dub. Na verdade, depois do Bob Marley, eu conheci o que estava mais na cara, que era o som dos anos 70/80, produções de King Tubby, Niney Observer, Linval Thonpsom… Daí tive contato com as produções do cara que na minha opinião é o must dessa cultura, Sir. Coxsone Dodd e seu Studio One (para quem está conhecendo agora, o Studio One é um dos maiores, senão o maior e mais importante estúdio da Jamaica. O produtor Coxsone Dodd, falecido em 2004, era o produtor e dono do estúdio). Voltei a buscar sons mais antigos, produções de Coxsone, e descobri outros produtores e grupos como Skatalites, que foram o estopim para que a cultura do vinil jamaicano entrasse na minha vida.

GM – Há quanto tempo existe a Jurassic Sound System, e como ela foi criada?
J – Oficialmente e com o nome JURASSIC, a soundsystem existe há 3 anos. No início, era apenas uma idéia, não tinha nome. Em uma certa festa de aniversário, eu e um amigo chamado Luis juntamos nosso material para tocar. Ele levou sua mesa de som, um pedal de delay e um toca discos, e eu levei os meus poucos vinis, uns amplificadores e um microfone, e mandamos o som. Depois, fizemos outra festa em outra casa de amigo, a rapaziada curtiu pra caramba… Como tínhamos uns equipamentos bem velhos (risos), se não me engano o Luis disse: “Nossa, esse sistema de som é jurássico!”. Batizei então de Jurassic. Das festas com amigos, acabou rolando fazer na Faculdade FESP uma comemoração no Dia da Consciência Negra. A festa encheu, o pessoal presente curtiu, e no dia seguinte já fizemos um som em outro pico… Com essa repercussão, comecei a pensar em equipamentos, já que vinis nós sempre comprávamos. Comecei a montar as primeiras caixas de som, e rolaram várias festas, várias mudanças de formação, até a Jurassic Sound System ser o que é hoje.

GM – Qual é a atual configuração da Jurassic?
J – Hoje a Jurassic é formada por uma crew de amigos, a família You & Me on a Jamboree, e apesar de estarem sempre presentes e fazendo de tudo nas festas, cada um tem uma função meio que distinta. Hoje eu e o Sono selecionamos, o Danilo e o Luis estão sempre na montagem, junto com o Greg, que por sua vez atua na parte de divulgação do Sistema de Som. Agora, sobre a Configuração do sistema de som… hahahahah! Hoje a Jurassic é formada por uma parede de som ainda modesta composta por 2 falantes de 18 polegadas, 7 falantes de 15 polegadas, 3 falantes de 12 polegadas, 6 tweeters e 3 drivers. (Nota da Dani: MODESTA, JURÁSSICO???) Essa parede de som deve totalizar aí uns 5000 watts rms, lembrando que nossa idéia é ser um OLD SCHOOL soundsystem, não só nos vinis, já que a nossa parede de som é feita de madeira maciça, que além de dar uma sonoridade totalmente particular ao som, nos dá também belas dores nas costas e por isso sempre estamos mortos após as festas, hahahaha! Além dos periféricos, contamos com a famosa Synare usada por Jah Shaka, além do espetacular toca discos Garrard 4HF, o mesmo também usado por Jah Shaka, Coxsone, King Stitt….

GM – Jurassic Sound System e You & Me on a Jamboree. Como aconteceu essa parceria, e o que ela trouxe de novo para a Jurassic SS?
J – Há algum tempo atrás, tive o prazer de conhecer o pessoal da YOU & ME, crew da qual hoje também faço parte, numa discotecagem do nosso amigo Magrão (Moffo Produções), em Osasco. Nessa festa conversei com o Greg, que curtiu saber que existia alguém com vinis da antiga música jamaicana em SP, e meses depois ele me convidou para tocar na primeira edição da festa Jamboree. Foi memorável, festa lotada, mais de 500 pessoas, rapaziada em êxtase, pois esta também era a primeira festa exclusivamente da velha música jamaicana na capital. A partir daí virei uma espécie de residente, e isso acabou por criar uma amizade grande entre nós também fora do circuito de festas. Resolvemos unir as forças para dar um up na cena de música jamaicana que começa a andar com suas próprias pernas. Essa fusão trouxe para a Jurassic o que é mais importante para qualquer sistema de som, ou para qualquer coisa feita em parceria, que é a AMIZADE! Com isso aí, o resto é um pulo.

GM – A Jurassic é a única soundsystem especializada em ska e rocksteady no país. Por que a escolha desses ritmos, mais o early reggae, para serem os principais ingredientes do sistema de som?
J – Quando comecei, eu não tinha o intuito de tocar exclusivamente música old school da Jamaica. Tocávamos, além do roots, também ska/rocksteady, e só depois da entrada do dj Lucas Corpo Santo, que veio com a idéia de mandarmos mais early sons, pensei que não seria uma má idéia. Seríamos assim um sistema de som exclusivo, dando ênfase aos anos 60/70, e mandando apenas um pouco de roots. Porém, mais adiante, decidi que tocaríamos exclusivamente ska / rocksteady / early reggae, somente! Comecei a comprar cada vez mais vinis somente do gênero, e fui ficando cada vez mais viciado na idéia de manter o som só com estes ritmos.

GM – Qual foi o primeiro vinil a fazer parte da sua enorme coleção de discos originais e raros, e qual o tamanho desse patrimônio hoje?
J – Hummmmmm, o primeiro??? Me lembro do meu primeiro compacto de música jamaicana da velha guarda, provavelmente foi Never Gonna Give Up, do Derrick Morgan. Entre ska/rocksteady/early reggae, em compactos originais de 1962 a 1970, devo ter entre 600/800, sem incluir os roots de 1972 a 1976, e alguns 1980, que devem somar algo em torno de 200 a 300, mais minha coleção de LPS e 12EP´S que devem girar em torno de 200 a 300, ou seja, no total minha coleção tem 1000/1500 vinis, ainda pequena perto dos grandes colecionadores brasileiros. O valor real da coleção para mim é inestimável, independente do valor real de cada compacto.

GM – Por que só discos de vinil em prensas originais? Qual a diferença entre eles e as demais prensas?
J – A idéia era ser um soundsystem como mandava a velha escola, e na velha escola, só prensas originais… hehehe! Além disso, ganha-se um desempenho gigantesco com prensas originais, já que hoje as represses são feitas mais nas coxas, com menos qualidade, em maior escala, meio que tudo embolado. A prensa original é feita na maioria das vezes com muito mais cuidado, melhor mixadas e equalizadas, como eram as prensas dos soundmans, coisa rara numa reprensagem de hoje.

GM –Você talvez seja o dono do maior número de dubplates com grandes nomes da música jamaicana. Como é a cultura das dubplates no Brasil? Com quem você já gravou tunes exclusivos?
J – Não sei se realmente sou dono das dubplates mais raras, já que temos a nossa Jamaica Brasileira, aka Maranhão, ou seja, seria um desrespeito desconsiderá-los. Mas sei que tenho uma coleção de dubplates muito particular, já que quase nos restringimos a gravar com artistas da velha escola da música jamaicana, e estes artistas além de serem de difícil acesso e caros, estão todos morrendo. É um grande trabalho conseguir contato com eles. Gravei com alguns artistas fundamentais para a música jamaicana, como King Stitt, Derrick Morgan, Johnny Clarke, Larry Marshall, e outros, que são bem mais raros. Só que esses mais raros aí somente em nossa festas! (risos)
Quanto à cultura dubplate hoje, no Brasil, posso dizer que ela está crescendo muito, já que todo artista que vem para cá, independente de ser no Sudeste ou no Nordeste, sempre recebe vários soundsystems nacionais querendo gravar com eles. Realmente a cultura dubplate começa a crescer bastante por aqui.

GM – Como você vê a cena de reggae no Brasil hoje, principalmente em São Paulo, casa da Jurassic SS?
J – Acho que o ano de 2008 foi o mais fundamental para a cena de reggae de São Paulo, e digo isso com convicção, já que temos muitas festas e todas tem um bom e fiel público, seja em Santo André ou aqui na região central. Além disso, esse ano foi importante para que os pequenos sounds também mostrassem seu trabalho. Mas o melhor de tudo é a interação entre os públicos e os próprios sistemas de som, que tem interagido cada vez mais, um convidando o outro, e levando outros sons para o público. 2009 PROMETE!!!

GM – Quais são os projetos atuais da Jurassic Sound System, tanto solo quanto com a família You&Me?
J – Poder realizar cada vez mais festas para apresentar a velha escola da música jamaicana a todos, e aumentar nosso sistema de som, comprar cada vez mais vinis, e gravar mais dubplates!!! (risos)
Gostaria de deixar claro que estes são os objetivos da Jurassic SS e com certeza também são os da YOU&ME, já que é tudo uma coisa só. Realmente o que queremos é divulgar a rica cultura da música da Jamaica, principalmente a velha guarda. Sempre faremos o que for necessário, seja com nosso sistema de som, ou com o blog, ou com nosso podcast… Queremos mesmo é divulgar MASSIVE !!!

GM – O que o Jurássico ouve em casa?
J – Eu escuto muita música brasileira, pela qual eu tenho uma paixão imensa, seja o lado tropicalista, o bossa novista, o obscuro, anos 70… A música Brasileira, ao contrário do que muitos pensam, é riquíssima e ilimitada, assim como o som da Jamaica, e para mim as duas são as mais ricas do planeta. Além dos sons do Brasil escuto também muito rocksteady, que é meu ritmo predileto da Jamaica.

GM – Qual a agenda jurássica para o final de ano? Festas, sons?
J – Teremos a última Jamboree do ano, em sua 6ª edição, que será no dia 13/12, com outros seis sistemas de som parceiros da gente como convidados. E dia 21/12 estamos armando uma pequena confraternização com toda a galera da cena de SP em um boteco a se definir… hahahahaha!

GM – Algum recado para o pessoal que curte o seu trabalho?
J – Para quem curte só temos a agradecer, pois sem esse pessoal não seríamos NADA! E para quem não conhece, é só chegar nas festas, visitar o blog, e se envolver com essa linda cultura musical feita na mais mágica das ilhas do Caribe: JAMAICA!

GM – Onde podemos saber mais sobre o trabalho da Jurassic Sound System?
J – Para quem quer conhecer mais a Jurassic, disponibilizamos datas/fotos/flyers no www.flickr.com/jurassicsoundsystem , indicações de sons no www.youandmeonajamboree.blogspot.com , o podcast Invasão Jamaica You & Me na MTV no www.mtv.com.br/jamaica , e também uma comunidade no Orkut, Jurassic Sound System, feita pela nossa querida VOCÊ….hahahahaha! Bom acho que é isso aí, valeu pelo espaço Dani, e grandes abraços a todos !!!

(por Dani Pimenta)

7 thoughts on “Entrevista – Jurassic SoundSystem.

  1. Cada dia mais convencido, hehehe (Com quem você já gravou tunes exclusivos?). É nada Alex, sabemos mesmo é que você realmente gosta do que faz e com quem faz, pois suas Dubplates são raríííííssimas… Só você tem!Bacana a entrevista!BeijosSu hermana Jaque.

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