GM entrevista Ualê Figura, original gueto man

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Letras contundentes, raciocínio sagaz, pensamento crítico afiado e um estilo único e inconfundível. Quando ele cola com o microfone na mão nas sessões de sound system, os olhos e ouvidos se voltam atentos ao que ele diz e à sua performance, visceral e original. Além disso, ele tem um olhar nada óbvio sobre as formas de conectar música com outras artes – como é o caso da Treta Park, as famosas Carteiras Ualê Figura.

Alexandre Sant’ Ana Silva Borges, 39 anos, mais conhecido como Ualê Figura, é um dos artistas mais completos e uma das joias musicais que a cultura reggae/sound system nacional abriga.

Batemos um papo com Ualê pra sacar mais sobre suas origens musicais, sua chegada no reggae e sua trajetória até aqui. Se liga!

GM: Onde você nasceu?

Ualê: Água Rasa, São Paulo – SP.

GM: Como foi sua infância em relação à música? O que sua família ouvia, como eram os eventos de família, com quais sons você teve contato nesse período?

Ualê: Cresci dentro de uma família que dava muita importância à música. Toda importância que davam se materializava nas festas de quintais e bailes blacks da cidade de São Paulo. A referência máxima da família era e ainda é a atriz Neusa Borges, que nos anos 80 esteve muito próxima da família, morando na mesma casa. O fino do Samba, Soul, Funk, Disco, MPB de vários ritmos, Rock nas rádios, sempre estiveram presentes.

GM: Em que momento da vida você começou a entender que a música teria um papel tão fundamental? Como foram suas primeiras atuações na música?

Ualê: O momento crucial foi ouvir Rap! O Rap fez minha mente de primeira e, dali em diante, tudo que foi aparecendo com a linguagem da rua nos anos 1990 foi estimulando meu comportamento e educação mais do que a escola. Daí os primeiros bailes e shows de Rap nas quebradas foram fazendo a minha cabeça e dos manos que eu andava e que já escreviam uns rap’s. Naturalmente as ideias foram surgindo e do ano 2000 até 2010, participei de algumas junções formadas no bairro, com destaque para a participação de uma das faixas do segundo álbum do Grupo Realidade Suburbana, de Florianópolis – SC, em 2001.

GM: E Ualê Figura, de onde vem esse nome?

Ualê: Eu nunca tinha pensado em um nome para usar nas paradas e, certo dia, em um ensaio na casa do Jr. Little Car, com quem tinha um grupo de Rap chamado Uns Degraus 42, meu parceiro DJ Chave disse alto “tá com o Alê!” Ao ouvir o som me veio a letra U na cabeça e assim ficou. E o Figura veio do meu parceira DJ Derruba. Nas quebradas ninguém escolhe apelido! Hahah!

GM: Quais foram os seus lançamentos musicais ao longo da carreira?

Ualê: Em 2001 participei da faixa “Povo sofrido” do álbum “Lutando para vencer”, do Grupo Realidade Suburbana” de Florianópolis – SC. Esse trabalho também contou com participação do Grupo SNJ. Em 2018 participei de 2 faixas do álbum Jah Tallawah meets Rootikal Guetto, do Steppah Style Guux, e um vídeo clipe da faixa “Se Jah”. Ao fim de 2018, depois de quase 4 anos de tramas, finalmente colocamos nas principais mídias digitais o primeiro single da minha carreira, chamado Original Gueto Man, produzido por Monkey Jhayam.

Na sequência veio o tão sonhado álbum com 8 faixas vocais e 6 versões Dub de cada faixa. Intitulado “Estação do Gueto lança, Periferia no Ar!”, com produção de Monkey Jhayam e co-produção de SeMentes Livres Hi Fi, contando ainda com produções do francês Tsu Wazahari e de Yellow P do Dubversão. Desse álbum, ainda rendeu no mesmo ano a produção de um vídeo clipe da faixa “Mês de Maio Chora”, sob os cuidados de Premier King, atendendo Monkey Jhayam & Graxa Pura Produções. Em 2020 participei do álbum Quarentena, do produtor Kasdub. A primeira faixa desse álbum conta com letra e voz de “Cidade em Shock”.

No mês de outubro de 2020, lancei o segundo single da minha carreira, intitulado “Funk Dub do Saci”, produzido por Guilherme Chiappetta e SeMentes Livres Hi Fi. E tenho alguns trabalhos a caminho… participação de uma das faixas do álbum a ser lançado de Marietta e diretamente de Moçambique sob os cuidados do Produtor Al Jazz, vem exclusiva.

GM – Conta um pouquinho pra gente sobre o projeto das carteiras Ualê Figura e de que forma elas se relacionam com a sua arte musical.

Ualê: Eu e André Gomes Aka DJ Chave aprendemos a produzir as peças em 2010, através dos manos Pereira, Danilo e Benflogim. Desenvolvemos um jeito único de produzir e o André deu o nome de Treta Park, em alusão à marca Tetra Pak que produz a caixa de leite uht.

Daí em diante produzimos várias. André foi cuidar de outro ofício manual e atualmente corta cabelos numa BarberShop e investe na Treta Park, que com a minha produção e suporte da Vanessa Nilza segue os trabalhos. Nas Carteiras, estampo minhas referências que são citadas na músicas e vice e versa. Também deixo mensagens e big ups de todo tipo pra muito lance que admiro e respeito, com destaque para Flyers de festas que coleciono desde os 1990.

GM: Fala pra gente um pouco sobre seu novo single, Funk Dub do Saci. De onde veio a inspiração pra essa canção e qual o significado dela? Quando você a escreveu?

Ualê: Criatividade na relação de pernas com acontecimentos e feitos do povo preto. Um baita funk adubado com alguns dos diversos conhecimentos que obtive dentro da cultura Hip Hop. E o homenageado desse verso é King Nino Brown Zulu Nation.

Uma experiência incrível em ser ouvido por Guilherme Chiappetta e Mano Jão (SeMentes Livres Hi Fi). O trampo dos manos é cuidadoso e tá rolando uma química ótima. A história dessa letra é bem real e particular. Eu fiz uma viagem no Rolê Du SeMentes e, no banco de trás, junto ao Fernando Locão, conversávamos sobre o lance do Saci na cidade de Botucatu-SP, que leva bem a sério tudo isso.

Dali me veio a memória do EMEI e da Escola primária, em que chegava a data folclórica e lá vinham os trabalhos escolares… Daí concluí que esta referência de jovem preto que me apresentaram não condizia com a referência de mulheres e homens pretos que a vida me apresentou, e com pernas! Estou falando das possibilidades que mulheres e homens pretos criaram através das pernas e a pergunta no ar para todas “pernas/corpos” eliminados de nosso convívio por suas lutas e contestações de causas justas. Eu compus alguns dos versos em 2014/15 inspirado em uma história do DJ Derruba, que trocamos ideia e tal… e no inicio de 2019 acrescentei elementos e versos finais após a viagem com SeMentes Livres Hi Fi.

Para possíveis curiosidades, a menção ao nome do jogador de futebol Robinho não se trata de uma homenagem, e sim de uma citação a feitos impressionantes de pernas/corpos pretos. Como admirador do time da baixada santista, sou extremamente contra o retorno do tal jogador, uma vez que seu ato é repugnante e sua demonstração de defesa é asquerosa e terrível. Porém, ressalto que o mesmo deve ser medido pela mesma régua que mede homens brancos, sob a vigilância da lei. Por fim, afirmo que por decepção o nome citado ao vivo será devidamente substituído e sem mais.

GM – Essa canção transita por uma sonoridade diferente, que vai mais pro rap. Por que essa escolha e como ela permeia sua musicalidade?
Uale: Sim, a rima como citei acima é uma das várias matérias do Hip Hop, alinhados ao que cresci ouvindo que tem a ver com Soul, Funk e Disco. A escolha é o momento e tanto eu quanto meus manos admiramos demais esses ritmos dos anos 1970 com os pés fincados no Rap.

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